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Rio 2016

A Experiência que Faltava – Passagem de Eduardo Gayotto pelos Jogos Olímpicos Rio 2016 como Sport Manager da Natação

Sempre foi um sonho participar de uma Olimpíada. Como nadador, não foi possível porque parei muito cedo, com 16 anos, e como triatleta, aposente-me muito antes de o esporte se tornar esporte olímpico. Como o esporte sempre fez parte da minha vida pessoal e profissional, o sonho de participar não terminaria.

Pouco depois de o Rio ter sido anunciado como cidade sede dos Jogos de 2016 procurei caminhos para me encaixar como profissional na organização. Sem sucesso naquele momento, não desisti da possibilidade, e fiquei sempre atento aos amigos envolvidos com Head Hunters e também em contato com meu amigo e contemporâneo da natação, o recordista mundial e medalha de prata em Los Angeles 1984, Ricardo Prado. Ricardo já havia trabalhado no Pan 2007 e estava envolvido com a organização dos Jogos Rio 2016.

No final de 2014, Ricardo publicou em seu Facebook que estava abrindo o processo para a vaga de Sport Manager da Natação. Neste momento, ele era responsável pelos 6 esportes aquáticos (natação, polo aquático, saltos ornamentais, nado sincronizado, maratona aquática e natação paralímpica).

Aceitei entrar no processo e 4 meses depois iniciava no Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

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Organograma e Ambiente de Trabalho

O prédio em que comecei a trabalhar foi construído a partir de containers no bairro Cidade Nova, no centro do Rio de Janeiro. Bonito, bem decorado e muito organizado, já demonstrava o alto padrão de exigência de Jogos Olímpicos.

Muito material me foi dado e entre eles o organograma do Comitê. Extenso e completo, consegui conferir que muitas áreas funcionais faziam parte do organograma e entender ainda mais a grandiosidade da estrutura.

Neste momento, ficou claro que o planejamento feito, anos antes, garantiria a qualidade da entrega.

Pra mim também ficou evidente  que um relacionamento próximo e de qualidade com todas as áreas funcionais seria essencial para que o resultado da natação fosse positivo.

Comitê Olímpico Internacional (IOC) e Federação Internacional de Natação (FINA)

Uma parte importante da experiência como Sport Manager foi o relacionamento com o Internacional Olympic Comittee (IOC) e com a Federacion Internacionale de Natacion (FINA), duas entidades seculares e para as quais tínhamos que nos reportar constantemente. O IOC e a FINA eram compostos por profissionais experientes e exigentes.

Gilbert Felli, ex-superintende do IOC, era o responsável por reportar e achar soluções para os  ïssues (termo amplamente utilizado para sinalizar problemas na maioria das vezes com soluções simples) que apareciam constantemente. A FINA era representada pelo diretor executivo, Cornel Marculesco, profissional conhecido e reconhecido por elevar a natação mundial ao patamar dos 3 esportes mais vistos na Olimpíada.

A relação com ambas as entidades foi excelente, salvo quando o assunto eram as obras. Os suíços, cordiais e acostumadas a seguir os prazos de entrega previamente estabelecidos, estressavam-se sem perder a elegância.

Devido à várias mudanças das instalações destinadas inicialmente aos esportes aquáticos (essa é uma história bem longa) a FINA precisou aceitar fazer 3 dos seus esportes – no caso Polo Aquático, Saltos Ornamentais e Nado Sincronizado –em uma única instalação. Isso nunca havia acontecido antes; portanto o stress sobre este assunto foi bastante grande, principalmente porque os planos de contingência seriam escassos. Por outro lado deixamos o legado de que é possível e que os custos dessa forma são menores.

Preparação para os Jogos

email-gayotto-rio2016Para os jogos, construí e preparei meu time. Como Service Manager, trouxe Karen Casalini e como Technical Operation Manager, Cezar Bolzan, que começaram 8 meses antes do Jogos. Ambos me ajudaram a montar a equipe de coordenadores composta por: Lucy Gracindo (Coordenadora Administrativa), Gabriela Carvalho (Coordenadora de Árbitros), Gabriela Drummond (Coordenadora de Federação Internacional), André Schultz (Coordenador de Serviços aos Atletas), Moacyr Freitas (Coordenador de Equipamentos), Rogério Carneiro e André Santos (Coordenadores de Comunicação com Atletas), Cristiano Marcelino (Coordenador de Instalação de Treinamento) e Rogério Romano (Coordenador de Campo de Competição); que começaram 50 dias antes dos Jogos.

Esse time foi responsável por liderar mais de 300 voluntários, os quais foram escolhidos cuidadosamente.

Os Jogos

Dia 24 de julho de 2016 abrimos as piscinas do Parque Olímpico para os atletas. Como já era esperado, todos os países com grande número de atletas compareceram para reservar seus espaços na piscina de aquecimento.

Por falar em espaço para os países, este foi um item muito elogiado por vários países e pela FINA, pois foi o maior espaço disponibilizado para equipes em todos os tempos.

Os atletas foram chegando, a cada dia o número aumentava. O Japão surpreendeu – apareceu com toda a equipe e fez uma coletiva de imprensa bastante grande, despertando nossos cuidados e atenção redobrada. Depois, foram para São Paulo treinar e retornaram 2 dias antes do início das competições.

A equipe americana, composta por 51 nadadores, juntamente com seu grande astro, Michael Phelps, chegaram três dias antes.

Novecentos e seis atletas se inscreveram para a natação, número recorde em Jogos Olímpicos. 

A natação olímpica não poderia ter sido melhor; arrisco-me a afirmar que foi a mais emocionante de todos os tempos. Vários recordes mundiais e olímpicos foram batidos, sem a utilização de trajes especiais, a confirmação da norte-americana Katie Ledecky como a nova sensação da natação mundial e principalmente, a despedida , em altíssimo nível, do maior nadador de todos os tempos – Michael Phelps, que ganhou nada menos do que seis medalhas olímpicas.

Para mim e todo o comitê organizador, o mais importante era que a FINA e o IOC reconhecessem nossa busca pela excelência e que o resultado final não poderia ter sido melhor.

“Estou muito feliz!”, essa foi a declaração do Sr. Cornel Marculesco, diretor executivo da FINA, durante as competições.

A minha declaração não pode ser diferente, “Estou muito feliz”, e digo mais “depois dessa experiência corporativa em um evento dessa magnitude, sinto-me um profissional ainda mais completo”.

Abraço à todos,

Eduardo Gayotto